quarta-feira, 8 de junho de 2011

Quarenta e poucos Sofrimentos



Brasileira sofrida. Caminha rapidamente pelos corredores de sua casa, desesperada e com olheiras (geradas do passado e não somente do sono mal dormido na noite anterior), coitada, não conhece o amor. Nem de filho nem de marido. Vive para o trabalho pois este há de lhe sustentar, há de lhe amar. Mal sabe ela, pobre mulher, que ele não ostenta a felicidade que tanto procura no espelho. Reclama e xinga por horas aqueles que haveriam de ser sua família, trata como lixo todo o império que conquistou nos últimos dezenove anos. É pobre de alma, espírito, dinheiro. Se veste com o desnecessário e deixa o necessário pra quem tem dever de criar. No almoço serve angústia com sobremesa de ódio, e assim são seus dias. Acorda as sete e já reclama (do sol na janela, do barulho da televisão, do café da manhã feito pelo marido mal amado), inferniza o bom humor de quem acorda com esperança de dias melhores, desce as escadas e vai conversar com suas plantas (pois elas não argumentam), depois de minutos volta para dentro de casa, bebe o café já posto em xícara pelo marido (o tal do mal amado) e diz que está ruim. Enfim, faz a toilette de cada dia. Procura a melhor roupa do guarda-roupas, enfeita-se, maquia-se e espera o horário de trabalhar. Arruma-se tanto para nada, ou talvez pela elegância de dizer "Pois sou diarista, e ainda mulher." Esqueceu apenas de ser mãe, esposa e dona de casa.
Todas as noites, ao se aconchegar na cama, finge ter vida normal e feliz. Conversa sobre as notícias da televisão e, forjando sofrimento pelo próximo, agradece a Deus por ter seu lar (pois tudo na vida lhe pertence). Esquece que o resto da família discorda, pois não se importa, amanhã é outro dia.

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